“O DOM DA MISERICÓRDIA É MAIOR FURADA”

“O DOM DA MISERICÓRDIA É MAIOR FURADA”

Publicado em 27/08/2012 por W.Wil

O que te comove e faz agir?

Os anais cibernéticos tem se enchido com debates vazios sobre o papel das instituições cristãs com gancho na máxima de Jesus “Venda tudo que tens e dê aos pobres”. Considerando que instituições católicas, cristãs, protestantes, tem cada vez mais templos ricos diante da população cada vez mais pobre, por incrível que pareça a ideia desse Nazareno, filho de Deus, soa ousada demais aos que fazem parte desses grupos, e mesmo os que não usufruem da riqueza de suas religiões, defendem com unhas e dentes o direito de seus líderes e templos ostentarem o tão suado ouro arrecadado.

Passei um tempo conversando sobre isso com gente de todas essas plataformas e, acreditem, as resoluções não foram animadoras.  Parece que dezessete séculos de desconstrução da comunidade pensada por Jesus e desenvolvida pelos apóstolos, nos segaram de tal forma que Jesus hoje pousa como um simples adorno as religiões feitas em seu nome, e seus mandamentos de estilo de vida social transformador, transitam como a canção “Image” de John Lennon nesses locais. Tudo muito lindo, mas totalmente utópico.

Meu fio de esperança já estava quase indo as favas, quando fui participar do FOCOS, Fórum de Consciência Social, que aconteceu na Igreja Batista Betânia, no Mallet, Rio de Janeiro.  O tema da mesa de debates era “O papel social da igreja local”.  Minha falta de fé num tema desses se deve pelo excesso de discursos, matérias publicitárias para expurgação de pegados sociais, ou mesmo filantropia para inglês ver.

Os debatedores eram Ronilso Pacheco da Viva Rio; Clemir Fernandes do Renas Nacional; Alex Possati do Circuito Jovem; Jocimar Oliveira do Projeto Esportivo Craques na Vida e o Pastor Neil Barreto da Igreja Batista Betânia. A mediadora era a Pastora Davina, presidente do CCAS.

Ronilso abriu as falas com o discurso de secularização do sagrado. Ele partilha a ideia que Jesus desacraliza hábitos para tornar as coisas santas mais comuns a todos. Usa como base o Evangelho de Marcos, capitulo sete, para defender que essa tradição de ritual para tudo é desfeito por Jesus afim de tornar as coisas santas mais humanas, acessíveis, dizendo que os rituais não são tão importantes como a vida humana. A igreja passou valorizar mais os ritos do que ser humano, por isso se distanciou do seu papel social.  Ronilso arremata, “Está escrito que as pedras clamarão, e como a igreja não tem cumprido seu papel, talvez esses movimentos como MST, Viva Rio, e outros, sejam as pedras clamando. A igreja precisa escolher, ou ganha visibilidade comprando uma emissora, por exemplo, ou clama no lugar das pedras. As pessoas falam muito de crentes desviados. Há muita igreja desviada por aí e não sabe”.

Jocimar Oliveira falou sobre seu trabalho com futebol para crianças carentes. Disse que conseguiu através do CCAS, Centro de Cidadania e Atividades Sociais, sair do discurso, “parar de treinar e jogar de verdade. As pessoas precisam abrir o coração para isso. Ou abrem o coração agora, ou se isolam na sua vidinha separada, depois vão abrir o vidro do carro no sinal, talvez para dar o dinheiro à força”.

Alex Passati é o tipo de cara que pede licença do trabalho por uma semana para ajudar desabrigados em enchentes. Liderando jovens na igreja não é muito chegado a cultos litúrgicos ou cânticos sacros. Acha que o papel da igreja é agir na sociedade aqui e agora. Fazer o que pode ser feito neste momento. Um dos trabalhos que desenvolveu, Natal na Cinelândia, lhe proporcionou o convite para ser expositor como exemplo de resultados no TED – Tecnologia, Entretenimento e Designer – evento internacional que pensa soluções para um mundo melhor.

Clemir Fernandes já abre sua fala com uma provocação, “Eu acho constrangedor estarmos reunidos aqui falando sobre o papel da social da igreja, pois isso não deveria estar separado da função da igreja”.  Discorreu sobre Mateus 9:35, quando Jesus percorria as cidades e se compadecia das multidões cansadas dos fardos sociais e religiosos. Jesus apresentou um evangelho sedutor, confortante, que causou grande impacto. As soluções sociais estavam inseridas na igreja de Jesus. Isso era o evangelho dele. Seguiu com os apóstolos.

No século III d.C. veio a constantinização, o imperialismo, a sedução intelectual e política, tanto que até os bispos da igreja começaram a se vestir como os imperadores. Foram anos de abandono das funções da igreja. Nem no século XVII, com o protestantismo isso mudou, pois os luteranos e calvinistas assassinaram gente em nome da religião.  Somente no século XVIII, é que John Wesley deu importância ao papel social da igreja através do metodismo, que gerou muitos discípulos com a mesma preocupação, como por exemplo, William Booth, cristão metodista Wesleyano que fundou o Exército da Salvação.  Mas hoje a igreja Metodista precisa também voltar a essas origens, pois acabou se tornando iguais a outras, distanciada. Analisa Clemir.

“O Brasil é atualmente a 8° economia mundial e o 4° em desigualdade social na América Latina. A vivência fé é com comprometimento. A teologia da libertação vai dizer que o social e o espiritual são a mesma coisa. Jesus é aquele que empodera as pessoas; abraça, acolhe, resgata”. Conclui Clemir que ainda apresenta um vídeo da perigosa e necessária ação da Renas, a “Bola na Rede” contra o abuso sexual de crianças na copa.

Pastor Neil Barreto é o autor da frase título desse artigo. Ele disse: “O dom da misericórdia é maior furada. Você vai sofrer o tempo inteiro porque os outros estão sofrendo”. Ele transformou radicalmente a atuação da igreja que pastoreia. Disse que resolveu usar seu dom para capacitar os misericordiosos.  A maior parte dos recursos arrecadados na Igreja Batista Betânia, é investido em ações sociais. Tanto que o templo funciona numa tenda, onde os pisos só estão sendo colocados agora. Em compensação o centro social, CCAS, possui o prédio de três andares, com instalações modernas, ar-condicionado, tudo para atender muito bem a população carente da comunidade circunvizinha. Ele deu a dica para as igrejas que querem fazer e não conseguem:

1 – Voluntariedade. Muitos só estão preocupados com experiências fenomenológicas. Mas lá em Isaías capitulo seis, após sua experiência, Isaias diz “Eis-me aqui Senhor, pode me enviar”.

2 – Personalidade. A igreja é composta de consumidores, gente medíocre que só porque acha que dá o dízimo já fez alguma coisa. Os pastores estão formado um exercito de bebês que precisam ser adulados. A única coisa que bebê produz é cocô. Esse pessoal vai querer te tirar do seu propósito. Você precisa se manter firme.

3 – Senso de missão. O que devo fazer? Para quem devo fazer? Missão integral nunca será um trabalho de maioria. Encontre o outro que pense como você. Se tiver dois, Deus estará no meio.

A platéia composta de pastores, profissionais, agente sociais, ongueiros, a maioria gente de igreja, dispostas a ir além do culto dominical, querem uma luz sobre o anseio de transformar a sociedade em que vivem.

Pastor Neil finaliza sua fala dizendo que se cansou de ficar administrando regrinha de igreja, crente chorão, e resolveu por em prática o chamado de Jesus. Lembrou de uma frase de Erico Veríssimo: “Felicidade é ter a consciência de que sua vida não está passando inutilmente”.

Enfim, a esperança de que a igreja pode vender tudo que tem e dar aos necessitados.

Publicado por Alex Goldner "O Peregrino"

"Somos reformadores e falamos o que temos aprendido e sentido da parte de Deus. Ensinamos a andar com Deus, simplesmente sendo Dele e para Ele."

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